segunda-feira, 28 de julho de 2025

O Parque dos Cervos de Sarnath é onde você está

Em uma clareira pura na floresta, os pássaros cantam e o ar se enche de um suave perfume. Você vê um grupo de cervos pastando.

Ao olhar para a paisagem ondulante, você avista um homem de porte muito nobre sentado de pernas cruzadas no chão, com as costas eretas e o portamento solene, mas vestindo uma túnica monástica simples. Cinco monges o acompanham de perto, com os olhos semicerrados e completamente concentrados na escuta.

Enquanto você caminha por ali, sente uma profunda sensação de paz. O rosto desse homem é sereno e belo, como se irradiase luz. Sua voz, embora suave, ecoa com clareza até o lado oposto da clareira.

Esse homem fascinante pronunciou uma frase que o fez parar para ouvir:

“Bhikkhus, qual é a verdade do sofrimento? Nascer é sofrimento, envelhecer é sofrimento, adoecer é sofrimento, morrer é sofrimento. Estar separado de quem se ama é sofrimento. Desejar algo e não conseguir é sofrimento. Em resumo, a natureza humana, por se apegar com facilidade, gera sofrimento.”

Você fica profundamente cativado. Nos momentos mais dolorosos de sua vida, foi por acaso que encontrou esse homem, acompanhado de seus cinco discípulos, naquela clareira. A voz dele, grave e poderosa, descrevia com solenidade o Caminho do Meio e o Nobre Caminho Óctuplo.

De repente, você se vê sentado na relva, absorvendo cada palavra daquele que todos chamam de Buda. Esse encontro casual marca o instante em que o Buda “gira a roda do Dharma” — mais precisamente, o Sutra do Giro da Roda do Dharma.

Não é difícil imaginar. Eu e muitos que conheço encontramos o Buda dessa forma por acaso — não necessariamente no Parque dos Cervos de Sarnath, mas ao ler seus ensinamentos, como se estivéssemos ali presentes.

Quando estudo os sutras, medito ou recito os textos, procuro me imaginar dentro daquela clareira. É uma forma magnífica de praticar e absorver o Dharma.


_____
28 de julho, dia comemorativo do Primeiro Discurso do Buda após a sua iluminação ("Chokor Duchen") 

Melhor ajustar as velas do que culpar os ventos


Para minhas meninas 

A vida é feita de razão e sensibilidade. Os dois devem equilibrar e temperar o viver. Devem conviver sem se sobrepor.

A bonança da vida é saber utilizar esses dois lados para as decisões que a vida nos oferece.

Sem sensibilidade não há percepção. Sem razão não há discernimento. Com muita sensibilidade você se perde no caminho das decisões e da exatidão. Com muita razão você torna o caminhar duro e pesado.

O caminhar não pode ser um fardo. Ele deve ser tranquilo, ainda que as tempestades venham e os ventos soprem fortes, as minhas velas internas precisam estar "ajustadas". Se não as ajusto corro o risco de não suportar as tempestades e culpar os ventos.

Mas como se ajusta as velas? Com cautela e precisão, verificando o que fica bom e o que não fica; esses ajustes fazemos em dias de brisa, ouvindo a voz que vem do coração. Se entendendo, se respeitando. A sua voz interior.

Velas ajustadas, seguimos no caminho, por brisas e ventos sem pensar nas tempestades, mas sabendo que elas existem, ou seja, sem esquecê-las. Apenas preparado para enfrentá- las.

Os tempos do viver encerram ciclos e abrem outros. Mas nos exigem coragem e velas bem ajustadas para suportar as adversidades e o mau tempo. Passada a tempestade, velas estão acolhidas pelo sol, que vem brilhar anunciando trégua.

Ajustem suas velas. Não culpem o vento. Saber enfrentar a tempestade depende do seu ajuste. Não culpe o vento, não culpe o outro. Vc é o condutor do caminho, faça-o como um bom marinheiro. Que sabe aproveitar a brisa, os dias de sol, sem se esquecer que precisa estar preparado para a próxima tempestade. Não é ficar pensando nela. Apenas saber que as adversidades existem. Ter razão e sensibilidade para enfrentá-las é o segredo.


Daysinho (Dayr Fernandes) - 18/6/1940-1974